Trabalhando na Irlanda
Existem dois tipos de situações para quem quer morar na Irlanda: se você tem descendência de algum dos quinze países na União Européia , ou se você só tem seu passaporte brasileiro.
No primeiro caso, você vai ser tratado aqui como um europeu. E boa parte dos europeus do sul escolhem a Irlanda para morar porque atualmente este país é considerado o “Tigre Celta”, graças a investimentos de países ricos como a Alemanha, França e Inglaterra, várias empresas se estabeleceram aqui, tirando o país da situação marginal em que se encontrava há até uns 10-15 anos atrás. O passado da Irlanda sempre foi muito difícil, igual ou pior que o de Portugal, ou seja, um país pobre, à margem da riqueza européia, e que exportava mão-de-obra para a Inglaterra, vizinho rico, Europa, Estados Unidos e Austrália. Com as recentes mudanças, porém, o país vem atraindo principalmente italianos e espanhóis, mas também alemães e franceses, em cujos países não se encontra emprego ou salários razoáveis como os daqui. Estes europeus chegam aqui e conseguem trabalho em questão de poucos dias. Se você portanto, tiver passaporte de um desses países, não terá problemas.
No caso de ter passaporte brasileiro somente, a única vantagem para nós era que aqui não há tantos portugueses, Portanto, qualquer trabalho que requeira o conhecimento da língua portuguesa acaba sobrando para nós brasileiros. Atualmente, porém, a situação tem mudado bastante, e cada dia o governo impões mais normas à concessão do visto, normas estas a que os empregadores normalmente não querem se sujeitar, preferindo, obviamente, trabalhadores europeus.
O sistema de concessão de visto funciona de maneira semelhante ao da Inglaterra, ou seja, a empresa deverá conseguir o visto, o chamado work permit , sem nenhuma inteferência do candidato, ou seja, de uma certa maneira, você é “patrocinado” por uma empresa. O que acontece, porém, na verdade é que as empresas perguntam se a pessoa já tem o visto. Mas é óbvio que não, porque ninguém quis pedi-lo para você. É mais ou menos parecido no Brasil com as empresas que perguntam se o candidato tem experiência, mas como ele acabou de sair da universidade, óbvio que não tem experiência pois ninguém quis contratá-lo ainda.
Logicamente, isso é com relação a conseguir um emprego sério. No caso de só se estar vindo para cá para fazer um dinheiro e treinar inglês e depois voltar para o Brasil, sempre se pode conseguir um trabalho em pub, lanchonete ou loja de conveniência. Em todos os casos, é muito difícil pois não é como a Inglaterra, que de uma maneira ou de outra acaba-se conseguindo pelo menos alguma coisa para não passar fome. Aqui eles sempre perguntam qual a sua nacionalidade. No caso dos pubs, seu trabalho vai ser carregar copos de vidro no meio das multidões. O trabalho normalmente começa às 8 da noite. À meia-noite os lugares estão lotados, e como normalmente são minúsculos, você tem que equilibrar aquelas pilhas enormes de copos e tentar passar no meio dos freqüentadores sem derrubar, alguns deles já devidamente bêbados. Mais ou menos às 2 da manhã, os bouncers (leões de chácara de pub) já terão “limpado” o lugar, ou seja, expulsado todo mundo, pois aqui os lugares fecham cedíssimo. Aí é “só” deixar tudo limpo e arrumado. Mais ou menos umas 6 da manhã, se o pub pagar seu táxi, você estará em casa dormindo.
Nas lanchonetes, seu serviço será provavelmente fazer hamburguer e há escolha de turno, pode ser manhã, tarde ou noite, sendo que o último, é como no pub, tem que limpar a cozinha toda e só vai para casa a altas horas. É um pouquinho melhor porém, pois não tem contacto tão direto com o público. Dificilmente você ficará no caixa, pois esta função é reservada aos trabalhadores legais (os espanhóis adoram os McDonalds daqui!). Se trabalhar no McDonalds ou no Burger King, vai ter um treino, pois afinal fazer um Big Mac ou um Whopper é todo um processo!
Caso você consiga um sub-emprego, o cara que aceitar te contratar vai te pagar o que eles chamam aqui de “cash in hand”, ou seja, mais ou menos como trabalhar ilegal no Brasil, sem carteira assinada. Para os empregadores é um bom negócio, pois além de não pagar imposto, óbvio que o dinheiro que ele economiza com imposto ele não vai te dar, ou seja, no final da história, você vai ganhar a mesma coisa que o cara que paga imposto.
No caso de arrumar um emprego sério, na média, a cada 4 semanas que você trabalha, vai estar trabalhando na prática três para si próprio e a quarta para o governo. O imposto para quem ganha até um certo nível chega a pouco mais de 20%. O funcionário terá que preencher um formulário que vai dar a ele o direito de ter um número chamado P.P.S.N., que funciona como uma carteira de trabalho, sem aquilo não se pode trabalhar legalmente na Irlanda. O que pode acontecer é, dependendo de quanto tempo o governo levar para te dar o work permit, eles podem colocar seu salário em taxa de emergência, o que significa que a cada semana eles aumentam a taxa, até chegar a um nível em que o funcionário vai estar ganhando apenas 5% do que trabalha, até que a situação seja regularizada. Neste caso, se tem que ir ao tax office e mostrar a eles que você já regularizou a sua situação. Aí, também, quando eles acertam tudo você recebe de uma vez aquela bolada de dinheiro que eles te roubaram. Depois de pagar a todo mundo a quem tinha pedido dinheiro emprestado, dá até para fazer uma viagenzinha. Isto também pode acontecer com os europeus, basta que a pessoa por algum motivo não tenha recebido o número referido acima.
Nota: a partir de 2002, o governo irlandês começou a arroxar cada vez mais o controle para aqueles que tentam arranjar um trabalho legalizado. Como se não fosse difícil o suficiente encontrar uma empresa que queira entrar com pedido junto ao governo, agora eles também impõem que a determinada empresa tenha prova por escrito que tentou de todas as formas possíveis conseguir um funcionário que seja da U.E. Depois de um longo processo, eles dão, ou não, o Work permit.
Matéria feita por : Alexandre Doria
86 comentários