Brasileiros enriquecem em euros
Conheça a Guiana Francesa, território francês na América do Sul, tem 210 mil habitantes que ganham em euros e vivem sob as leis da União Europeia. Uma das riquezas é o ouro. Uma nova atração para Brasileiros com esperança de uma vida melhor e de ganhar dinheiro.
O site sairdobrasil.com lembra a todos, que é muito importante imigrar legalmente! Acompanhe um pouco sobre a vida e as histórias de vitórias e dificuldades de pessoas que imigraram!
É a vida que Gilmar Vieira Alves sempre sonhou. “Eu vivo bem. Não posso lamentar a oportunidade que tive, a minha sorte e, claro, o meu trabalho”, diz ele, que tem 36 anos. Um brasileiro do Tocantins aproveitando as delícias do Primeiro Mundo. Pelas ruas de Caiena, a capital da Guiana Francesa, ele desfila em um conversível deixando para trás uma vida de sofrimento.
“Peguei muitas malárias. O helicóptero foi me buscar dentro do garimpo e me levou direto para o hospital. Passei 28 dias internado, sem família para me ajudar a tomar um copo de água”, lembra.
Foram oito anos de trabalho pesado no meio da selva, até que o ex-office-boy, ex-garçom e ex-garimpeiro descobriu “ouro” como gerente de uma churrascaria.
“Para mim, valeu a pena”, garante Gilmar.
Até agora valeu uma casa confortável e alguns investimentos no Brasil. “Eu consegui comprar uma casa para o meu pai no Brasil, uma casa para mim e um apartamento em Brasília também”, conta Gilmar.
Gilmar aprendeu muito nesses 15 anos. Chegou em 1993 com autorização para ficar apenas nos garimpos. Batalhou e conseguiu trocar a floresta pela cidade. É um brasileiro que conquistou respeito bem longe de casa. “A sensação de ganhar em euro e gastar em real é muito boa porque você vê a diferença. Quando você troca o que ganha, dá vontade de voltar e buscar mais um pouquinho para gastar mais”, diz.
São tantos brasileiros na Guiana Francesa que já existe um bairro só deles. Cabaçu é Brasil no corpo e na alma. São 1,6 mil moradores legalizados e outros 300 clandestinos. Ruas de terra, casas simples e todo mundo com carro próprio. Pendurado na cerca, o jeitinho de arrumar dinheiro extra. Pedreiro, Normando Fontineli deixou Belém há cinco anos sonhando em fazer a vida nesse pedacinho da França. Mas até hoje não conseguiu escapar da clandestinidade.
“É uma vida muito tensa. Pensamos até que somos bandidos. Quando saímos da porta, olhamos para os quatro cantos”, conta Normando..
Sem a permissão do governo francês, não dá para arrumar emprego fixo. O pedreiro vive de bicos. Já foi deportado três vezes para o Brasil e sempre fez o caminho de volta. “O que eu vou fazer no Brasil? Minha mulher está aqui, meus filhos estudam. Tenho que voltar”, diz.
Todos os dias tem brasileiro sendo expulso da Guiana Francesa. Só em um grupo, 12 foram escoltados pela polícia até a porta do avião. Eles vão embora já pensando no retorno.
“Vou chegar lá e voltar em cima do rastro, se Deus quiser. É sempre assim”, conta o pedreiro Francisco Santos.
Os clandestinos atravessam pelo meio da selva, cruzando rios, desafiando o mar. Se arriscam em busca de um salário-mínimo de 1,2 mil euros, cerca de R$ 3 mil. Dá quase sete vezes o salário-mínimo brasileiro.
São 30 mil brasileiros vivendo ilegalmente na Guiana Francesa. Outros 20 mil são legalizados. É uma grande massa de refugiados em busca de oportunidades. A maioria do Amapá, do Pará e do Maranhão.
“A prefeitura me disse que 50% dos produtos da Guiana Francesa vêm do trabalho de brasileiros. A maior parte já está com dupla nacionalidade, naturalizada francesa. Estão aqui legalmente”, revela o cônsul do Brasil na Guiana Francesa, Carlos Loureiro de Carvalho.
Claudionor Meireles e Luiz Paulo Frazão são carpinteiros. Um chegou de Belém há 24 anos. O outro, há oito. Os dois têm visto de trabalho. Construíram família na Guiana Francesa. Construíram também uma vida diferente.
“Posso ter tudo o que quiser aqui: televisão da melhor qualidade, geladeira”, conta Luiz Paulo.
A diária de um operário é de quase R$ 150. E se ouve muito na Guiana Francesa: “Quer um trabalho bem feito? Chame um brasileiro!”.
“Muitos não têm coragem de subir. Mesmo o guianense, se olhar um trabalho desse, não sobe no alto da escada. O brasileiro é doido mesmo. Dá para fazer? Dá”, diz Claudionor.
Nessa terra onde muitos já encontraram a fartura, outros vão se virando para chegar lá.
“Muitos franceses vão viajar e não conseguem vender seus aparelhos. Então, depositam em um lugar que chamamos de ‘decheterie’ e as pessoas recuperam”, conta o montador Michael Rodrigues.
Foi assim que Michael mobiliou quase toda a casa. O aparelho de som, a geladeira, a televisão: tudo de graça e funcionando direitinho.
“Economizei uma faixa de 2,5 mil euros”, calcula.
Carro também vai fácil para o lixo. Modelos nem tão usados assim são abandonados nas estradas. É mais prático comprar outro do que mandar consertar.
José Hermenegildo Gomes, o Dedé, ganha a vida levando crianças para a escola. Foi um dos primeiros a pisar no Cabaçu. Para ajudar os compatriotas, decidiu fundar uma associação de moradores. Em uma pequena sala, os brasileiros recebem a bagagem para entrar na vida nova.
“Nós temos professores que ajudam as crianças a fazer o trabalho escolar. Na parte da noite, é a alfabetização para os adultos”, conta Dedé.
Um dos trabalhos mais importantes da associação é ajudar àqueles que querem sair da clandestinidade. Dedé diz que hoje mais de 6 mil brasileiros esperam por um visto de trabalho.
“Hoje existe uma política contra a imigração na Guiana Francesa, mas eles não dão conta. Ao mesmo tempo, eles têm uma política de francamente integrar aqueles que já moram há muitos anos”, diz Dedé.
Faz quase uma década que Edna Quaresma chegou à Guiana Francesa. Há dois anos decidiu largar o emprego e voltar a estudar. Mesmo sem salário, não se aperta para criar os três filhos e pagar as contas da casa.
“Eu tenho uma ajuda do governo para pagar meu apartamento de quatro compartimentos. Custa 580 euros. Eu recebo do governo 410 euros de ajuda para pagar o apartamento e recebo uma ajuda de cerca de 600 euros para escolarizar e alimentar meus filhos”, conta a estudante.
O governo francês investe milhões de euros em benefícios sociais. Educação e saúde são de graça. Além do seguro-desemprego, existe uma renda mínima de inserção para quem procura trabalho. Ela varia de acordo com o número de dependentes, mas, em média, fica em torno de 420 euros, mais de R$ 1 mil.
“Para quem é desempregado e casado, já tem um tanto para a esposa. E para cada filho o governo paga alojamento, alimentação, vestimenta, escola e material escolar. Então, às vezes ele ganha mais de mil euros por cada filho. Quem quer trabalhar? E é esse o medo da ocupação brasileira, porque o brasileiro vem para cá para trabalhar”, diz o cônsul do Brasil na Guiana Francesa.
E trabalhar duro. O cearense Francisco Aragão rodou o Brasil e foi parar naquela terra há 16 anos. É mais um fazendo a vida na construção civil. Começou como ajudante de pedreiro, e hoje é construtor.
“Isso é um sonho. Quando tive dinheiro, foi a primeira coisa que eu comprei. Meu primeiro investimento foi em um carro-de-mão, uma pá e uma régua para trabalhar”, lembra.
E dá-lhe trabalho. Para cada casa construída, muito suor. No ano passado, foram 40. Este ano, o ritmo teve que diminuir porque faltam outros Franciscos na Guiana Francesa.
“É uma demanda muito grande. Eles me pedem muito para construir, mas a mão-de-obra é muito difícil aqui. Não existe a contratação de clandestinos, não pode. Se eu fizer um negócio desses, além de não estar de acordo com a lei francesa, vou me complicar”, diz Francisco.
E ele conhece bem as complicações da vida clandestina. Foram quatro anos entrando e saindo da Guiana Francesa, arriscando a vida em uma perigosa travessia. “Cada viagem é uma história. Tem gente que vem direto; tem gente que passa dois, três dias escondida. Muita gente morre”, conta.
Francisco e a mulher, a dona de casa Hosana Lopes Aragão, realizaram o sonho de muitos brasileiros. Conseguiram uma carta de residência que precisa ser renovada a cada dez anos. Os dois filhos nasceram na Guiana Francesa, uma mistura franco-brasileira no coração e no idioma.
A filha do casal se chama Marie-Celeste. “Meu esposo queria Maria Celeste. Como moramos na Guiana Francesa, falei que seria Marie, em francês, e Celeste, em português”, explica Hosana.
Em casa, as crianças têm uma ligação forte com o Brasil. Na escola, aprendem a realidade do primeiro mundo.
“Não existe o pobre e o rico. Todos estudam no mesmo colégio, não tem diferença. A escola tem psicólogo, tudo de que precisamos”, diz Hosana.
“Eu prefiro o Brasil, que tem mais diversão”, diz o filho do casal, Mateus Aragão, de 11 anos.
Hoje Francisco tem dez funcionários, que depois do expediente não voltam para casa: vão para a do patrão. Não para falar sobre trabalho, mas para jogar o esporte predileto do chefe.
O construtor de casas é o presidente, técnico, capitão e jogador insubstituível do time de vôlei dos brasileiros. Uma turma imbatível, campeã da Guiana Francesa oito vezes nos últimos dez anos.
“Antes da final do campeonato, ele disse uma coisa muito interessante: ‘Vamos ganhar para aparecer na primeira página do jornal, mas não como brasileiro aparece às vezes, porque matou o outro ou fez alguma coisa errada. Vamos colocar na primeira página do jornal, com orgulho, a raça brasileira, que ganhou o campeonato aqui dentro'”, lembra o serralheiro Eduardo Neves.
Reportagem: Luiz Gustavo (Caiena, Guiana Francesa)
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