Brasileiros criam técnicas para viver nos cubículos do Japão
A famosa quitinete é uma das moradias mais comuns no país. Veja dicas de quem vive em apartamentos pequenos do outro lado do mundo. Os mais de 300 mil brasileiros que moram no Japão praticamente não têm chances de acumular bugigangas ou fazer festas para dezenas de amigos em suas casas, já que muitos vivem em apartamentos que não chegam a ter 30 m².
Uma moradia pequena no país tem um quarto (que também é sala), cozinha e banheiro, e independente do tamanho, as entradas têm sempre um local específico e rebaixado para as pessoas tirarem seus sapatos.
Nas províncias onde a concentração de brasileiros é grande, como Aichi e Shizuoka, os apartamentos são maiores e com capacidade para famílias, mas ainda assim o espaço é reduzido se comparado a uma casa do Brasil.
Tóquio é a região onde as moradias são menores e mais caras – o aluguel de uma quitinete custa em média R$ 1,4 mil. A brasileira Francine Flora mora na capital japonesa desde 1998 e sente falta principalmente de conseguir encher a casa de amigos. E seu apartamento nem é pequeno para os padrões japoneses: tem 39,7 m², com quarto separado da sala, além da cozinha e o banheiro.
“O primeiro lugar que morei tinha apenas 18 m². O mais difícil aqui no Japão foi me acostumar a jogar coisas fora, porque não tenho espaço para nada, mas pelo menos eu aprendi a não me apegar aos bens materiais”, brinca Francine, que adora preparar jantares mesmo ficando espremida em sua ‘cozinha-corredor’.
Fogão de duas bocas
Arquivo Pessoal
Fogão também funciona para secar a louça na casa de Daniela Sakashita (Foto: Arquivo Pessoal)
A cozinha é o local mais prejudicado dos apartamentos japoneses. Fogão de quatro bocas é raridade, o normal é encontrar duas ou no máximo três bocas, e normalmente as geladeiras se parecem com as de frigobar.
Para driblar a falta de espaço, o casal Daniela Sakashita de Barros e João Paulo Florentino de Barros criou um jeitinho brasileiro para cozinhar, na província de Nagano, já que seu fogão fica grudado na pia. “Primeiro picamos tudo e depois começamos a cozinhar. Feita a comida, limpamos o fogão antes de começar a lavar a louça, porque é lá mesmo que deixamos a louça secando”, explica Daniela.
Tanta falta de espaço chega a causar confusão, principalmente no corredor dos prédios. As portas principais ficam muito próximas umas das outras e Rubens Takeci Kamikado, que mora na província de Gifu, já teve problemas com isso: certa vez ele se confundiu tentou entrar em um apartamento errado, até que o morador foi até a porta ver o que estava acontecendo.
Quartos que viram sala
Arquivo Pessoal
Quarto sem cama: o futon (acolchoado) vai direto no chão de tatame (Foto: Arquivo Pessoal)
Nas casas onde o chão é de tatame é normal as pessoas dormirem em um acolchoado (futon) no chão, ao invés de ter camas. Dessa forma, ganha-se espaço no ambiente, já que durante o dia os futons são guardados em um armário típico (oshiire) japonês, onde cabe todo o kit de dormir, além de ser um guarda-roupa.
Quem tem criança em casa aproveita para transformar o quarto em um local para brincar. “Eu faço como as japonesas. De dia estendo o futon na varanda para tomar sol e depois o coloco dobrado no guarda-roupa, de modo que o quarto de tatame também fica livre para o meu filho brincar”, conta Cláudia Roberta Irente Yoscimoto, que mora no Japão há quase dois anos.
Para se adaptar ao espaço no Japão, a praticidade é algo que não pode faltar. Por isso, os apartamentos e casa sempre têm armários embutidos e é difícil ver prateleiras penduradas ou estantes recheadas de objetos porque eles podem despencar em caso de terremoto.
Segundo Cláudia, o segredo é deixar tudo organizado, o que reflete pontos da cultura japonesa. “Mas eu acho que a questão primordial mesmo é observar os costumes locais e tentar fazer igual, porque o ser humano se adapta a tudo. Então acredito que viver aqui seja aprender a viver bem com pouco”, finaliza.
Por: MARIANNE NISHIHATA
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