Porque algumas pessoas não aprendem o inglês
Eu não conseguia entender porque alguns brasileiros e hispânicos que vivem nos EUA já por muito tempo não falam inglês fluentemente. Existem muitas explicações, mas depois que me mudei para os EUA e convivendo com brasileiros e hispânicos, ficou fácil de entender o porquê.
A primeira vez que vim aos EUA foi em 1995 quando me matriculei em um curso intensivo de quatro semanas na cidade de Boston Massachusetts. Na época optei por ficar em uma casa de família americana. Não somente por curiosidade de ver como os americanos viviam, mas também porque, segundo meu orientador do STB, era melhor para aprender o idioma. Já na escola conheci vários brasileiros que optaram por ficar nos alojamentos da Collings University. Estes, só falavam em inglês dentro da sala de aula. Muito embora a escola tivesse um regulamento de que não se podia falar a língua nativa em suas dependências, os brasileiros ao saírem da sala de aula, só falavam em português. Primeiro erro.
O segundo erro, a meu ver, era que os brasileiros só faziam amizade com outros brasileiros e em todas as atividades fora da faculdade nunca treinavam o inglês. Alguns deles já frequentavam esses cursos de férias por duas ou três vezes e não eram fluentes em inglês.
Eu optei por fazer amizade com pessoas de outros países. No nosso grupo havia egípcios, japoneses, holandeses, italianos, gregos e outros. A única opção era mesmo nos comunicarmos em inglês. Todos os dias ao chegar à casa, a família me fazia muitas perguntas e eu tinha que encontrar uma maneira de respondê-las . Isso contribuiu muito para minha aprendizagem, mas não somente isso.
Depois de levar um puxão de orelhas da minha host mother por não ter feito a lição de casa antes do jantar (risos) eu, ao chegar da escola, passava algumas horas estudando. Fazia também as redações e pedia ajuda da família para corrigi-las o que eles faziam com todo prazer. Para minha surpresa, os brasileiros não faziam as lições e trabalhos exigidos. Outro erro.
Um dia resolvi aceitar o convite de ir com outros brasileiros ao shopping depois da escola. Claro que só falávamos em português. Chegando no metrô, todos pediram para eu comprar os bilhetes, pois não sabiam como pedir. Eu, já estava acostumado porque, pegava metro e ônibus todos os dias para ir pra escola. Nas lojas a mesma coisa. Sempre me solicitavam como tradutor. Fiquei imaginando quanto dinheiro desperdiçado para vir aos EUA e voltar sem saber muita coisa da língua inglesa.
Atualmente aqui na faculdade não é muito diferente. Os dois únicos brasileiros que eu conheço falam muito bem em inglês. Já os porto-riquenhos, dominicanos e outros é quase impossível entender o que dizem em inglês. Mesmo dentro da sala de aula, estes só falam em espanhol. Fora da sala de aula então nem se fala. Conversando um pouco com eles descobri que só assistem canais em espanhol porque acham difícil entender os canais americanos. Só ouvem rádios espanholas e o círculo de amigos deles gira exclusivamente em torno das pessoas da mesma nacionalidade. Isso acontece também com muitos brasileiros no país. Se você for, por exemplo, ao supermercado brasileiro em Orlando verá que os brasileiros lá fazem as mesmas coisas que os hispânicos que conheço. Nas suas casas só assistem a Globo e SBT via cabo. Só tem amigos brasileiros, só trabalham para brasileiros cujos clientes são brasileiros. No final das contas, mesmo após cinco anos não falam a língua do país. E hoje em dia algo pior contribui para o insucesso daqueles que aqui vêm para aprender a língua inglesa.
Hoje, muitos dos que estão matriculados nas escolas de línguas passam as aulas conectados ao Facebook, MSN e Orkut falando e digitando em português. Essas ferramentas acabam por sabotar o aprendizado da língua inglesa. Com a facilidade de usar essas ferramentas pelo telefone celular, muitos passam o tempo aqui sem ter uma real experiência de imersão na cultura e língua dos americanos.
Mesmo morando com uma família americana no momento, eu tento aprender algo novo todo dia. É fácil se acomodar e viver só com o inglês necessário. Mas eu tenho meus truques. Por exemplo, é mais fácil fazer uma lista de compras em português e se mandar para o supermercado. Eu tento fazer a lista em inglês e assim aprendo várias palavras novas todas as vezes. Temperos, verduras exóticas, nomes das carnes, tudo é muito diferente. Dá trabalho, mas é assim que se aprende. Quase todos os meus novos amigos são americanos e mesmo na sala de aula, quando encontro com os brasileiros procuramos falar somente em inglês, visto que achamos falta de educação falar em outra língua na presença de professores e outros. Coisa que os hispânicos não se importam.
Como já escrevi em um outro post, falar bem em inglês abre muitas portas para quem pretende viver nos EUA. Em uma entrevista de emprego, ao se relacionar com colegas de trabalho, fazer novos contatos e abraçar novas oportunidades, tudo vai estar vinculado ao quão bem você fala a língua do país. Geralmente se você vive aqui por algum tempo e fala mal em inglês, as pessoas associam à preguiça de aprender, desinteresse pela cultura ou incapacidade. E isso “queima o filme”. Já aqueles que desenvolvem bem a língua e ainda mais, tentam falar com o menor sotaque possível, são vistos como inteligentes, diligentes e capazes de coisas ainda maiores.
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