Proibido é melhor – viajando para Cuba

Viajando para Cuba

Proibido é melhor – viajando para Cuba

Quando era criança, tinha intolerância à lactose. Na mesa lá de casa, não era servido bolo, chocolate, sorvete, brigadeiro, queijo e todas as outras delícias feitas a base de leite. Mas não me sinto como se tivesse perdido uma parte da infância. Simplesmente porque nunca tinha experimentado o gosto de todas essas coisas.

Bebê não tem vontade de tomar coca.  Acho que era o único a não avançar na mesa de docinhos nos aniversários. Mas eu tinha uma certa curiosidade com esse doce proibido para mim. Que sabor é esse que faz a molecada avançar sem dó? E, por tentação, sempre surrupiava alguns. Hoje, sei como é irresistível um brigadeiro.

Viajar para Cuba é muito assim. A costa brasileira está ali, maravilhosa e acessível. Tem praia deserta, lotada, em cidade grande, em comunidades pequenas, água gelada, água quente, com onda, sem onda, com corais, com barracas, de nudismo, de surfista. Sem falar na hospitalidade. Mas mesmo assim a gente ainda olha para Cuba meio de rabo de olho, para dona das nossas férias não perceber. É que Cuba tem essa coisa da gente não saber direito como é a vida lá. Tem aqueles carros velhos dos anos 50 nas ruas. Mas e as peças? Como será que eles consertam os carros? Onde eles conseguem um filtro de ar novo para um carro daqueles?

Cuba apunhala a gente com aquelas imagens de botes feitos de câmara de pneu de trator tentando chegar a Miami. E, ao mesmo tempo, nos encanta com músicos maravilhosos empoeirados em uma casa antiga qualquer. E como se tivesse aberto um baú cheio de tesouro, vem um alemão e dá um tapa na cara do mundo ao mostrar músicos da estirpe de Ibrahim Ferrer, que fazem o sangue ferver com um acorde. Salsa é a cara dos cubanos. Que me desculpem os outros latinos. Junte-se a isso os charutos, um mojito e um chapéu panamá. Esse é o estilo cubano. O prédio está desmoronando mas meu terno é de brim.

E quem não quer conhecer um lugar assim? Longe da monotonia dos tudo incluído com suas estrutura engorda-porco. O máximo que Cuba tem é o quarto onde o Hemingway se hospedava. A verdade é que isso não trás nada de prático para o turista, mas tem lá seu charme.

Em um país pobre e ditatorial, o tratamento ao turista não poderia ser lá essas coisas. Eu mesmo levei dois meses e mais de 15 e-mails para reservar um quarto. E, não, não exige 50 toalhas brancas e apartamento com varanda com vista para o mar. A internet cubana é regulada e muito instável. Ao final de toda mensagem, eles pedem para você confirmar se recebeu o e-mail. E as mazelas não param por aí. Se você pesquisar um pouco, vai descobrir que Cuba tem uma moeda específica para turistas, os pesos convertibles. O governo maltrata a única fonte de renda, o turismo, com taxas e mais taxas. E aí de você se usar o dólar americano. Mais uma taxinha para você, só por ser simpatizante do Mickey. E se os carros são assim, o que pensar dos táxis? Pelo menos o rádio deve tocar uma boa salsa. E qualquer que seja o aspecto que você pense sobre esse país, vai ver que o doce parece gostoso mas a placa do perigo está ao lado. O visto mesmo é só uma folha de papel escrita a mão que você precisa buscar à embaixada ou ao consulado. O processo até que é rápido, se o computador jurássico for com a sua cara. A verdade é que dava muito bem para preencher uma ficha no avião mesmo e liberar todo mundo logo para ser feliz. Mas ei, o mundo pode estar desmoronando, mas eu ando em um rabo de peixe, meu terno é de brim, fumo um cohiba e duas belas negras estão me chamando para dançar.

Gostaria que Cuba funcionasse, pelo seu povo. Não pelo charme que iria embora. Se você também quer provar desse doce que engorda, prepare-se mentalmente. Quando eu voltar de lá, te conto se vale a pena.

7 comentários

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Vanessa

Ótimo. Bom que dividiu um pouco sobre essa cultura meio trancada. Obrigada.

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    Jarbas

    Obrigado pelo comentário, Vanessa. Nos próximos meses vou voltar mais vezes ao tema. Acho que ainda levanta muitas dúvidas entre os viajantes.

    Um abraco.

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Otavio

Oi Jarbas, estive em Cuba por quase um mês e se posso dar um conselho – mesmo não sendo requisitado – deixe todo e qualquer estereótipo sobre o país no Brasil. Deixe-se encantar pela cultura, pelo povo trabalhador e SUPER criativo que consegue viver diariamente fazendo mágica com o pouco que tem.

Cuba vai MUITO além dos cohibas, mojitos e hemingway. Boa sorte e boa viagem!

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    Jarbas

    Oi Otavio! Sim, estou indo de mente aberta. Quando voltar, escrevo mais sobre Cuba.

    Um abraco.

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alexandre xixa

Traga os charutos!!!!!

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Leonardo

Em Cuba qualquer um é obrigado a respirar o passado o tempo todo. É deprimente ver tantos edificios e ônibus caindo a pedaços. Viver lá é uma provação. A beleza de Cuba está em seu pobre povo que faz malabarismo para sobreviver. Visitei Cuba por 3 vezes

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