Viver na Espanha
Daqui pouco tempo fará dois anos que moro na Espanha. Pouco tempo, sem dúvida, mas o suficiente para poder parar e pensar sobre o que passou nesse tempo e compartilhar com vocês essas experiências, também aproveitando para me apresentar no “Sair do Brasil”.
Adaptar-me nunca foi um problema: gosto naturalmente do que me é estranho, alheio. Adentrar-se em uma nova cultura tem uma capacidade tão grande de nos descolocar (algo que os formalistas russos chamaram de “estranhamento”) e fazer-nos ver aspectos do mundo que jamais veríamos se não saíssemos da caixinha que é a nossa cultura (aquele ambiente maleável, confortável, quente, onde crescemos), que não há curioso que resista a uma experiência em terras estrangeiras.
Não é a primeira vez que moro fora do Brasil. Primeiro, morei sete anos na Argentina. Lá a adaptação não tinha sido difícil, mas hoje, comparando com a minha experiência na Espanha, aquilo foi dificílimo. Lógico, é fácil se adaptar às coisas boas (se até as ruins a gente também se adapta) e a Espanha está cheia delas. Aqui vão algumas:
1. Os espanhóis
Cada cabeça uma sentença, já dizia a minha avó (e com certeza a sua também). Talvez vocês possam escutar o contrário e quem sou eu para desmentir, mas minha experiência com os espanhóis é espetacular! Eles são simples, acessíveis, não se acham (lógico, minha experiência anterior tinha sido dura nesse quesito), e adoram contar piadas no bar com uma cervejinha. E mais ainda: adoram comer.
2. A comida
Vindo de São Paulo, estava bastante empapada da cozinha italiana e algo da espanhola (em Buenos Aires), mas cheguei aqui e descobri um novo mundo! Uma nova maneira de comer (falando de estrutura mesmo), novas receitas, novos ingredientes. Ai, as tapas, os arrozes, os ensopados… Eu não sabia o que era uma azeitona até chegar aqui, nem uma anchova. E, sim, já tinha comprado azeitona importada e cara no Mercadão! Mas aqui é diferente, mais fresca, mais forte também. Em Múrcia, então, cidade onde moro, a comida é maravilhosa! Mas é verdade que cada cantinho da Espanha tem suas delícias… E eu pretendo ir contanto tudo para vocês aqui no “Sair do Brasil” nos próximos posts.
3. A siesta
Vou falar a verdade: da siesta mesmo eu não gosto, porque acordo com um mau humor do cão, mas gosto da tranquilidade do espanhol. O mundo pode estar caindo em barrancos, mas nada tira a siesta deles, nem a “tapita con una caña”. Eles chamam isso de qualidade de vida, eu às vezes chamo de vagabundice mesmo, mas afinal de contas eles têm um país desenvolvido e o Brasil, onde se trabalha tanto, está lá atrás tadinho. Bom, mas nem tanto…
4. O atraso
A coisa aqui vai devagar! Não é só a siesta, não é o horário espanhol diferente do europeu (eles falam de si mesmos como se não estivessem na Europa), não é Múrcia que está no sul “pobre” da Espanha. Já conheci muita gente (em Múrcia e em Madri) que mal usa internet, outras tantas que tem o nome do marido e da mulher no mesmo endereço de e-mail, e por aí vai. Estou falando de gente jovem, educada e tal. Já escutei falar que a África começa depois dos Pirineos e, embora isso seja preconceito de francês, dá para entender o conceito. Na verdade, tecnologia não é o barato deles! Eu acho isso engraçado hoje, mas já xinguei muito.
5. As férias em família
Vinte por cento dos espanhóis estão desempregados nesse momento e no ano passado a coisa era parecida, mas ninguém pensa em não sair de férias. Em agosto as praias estão abarrotadas e as cidades ficam vazias. Dizem que eles vão para a casa dos avós, dos pais, de qualquer pessoa que comprou casa na praia na época das vacas gordas. O fato é que aqui ninguém pensa em não tirar férias. É mais: se os avós/pais espanhóis decidirem fazer greve, a Espanha quebra! Eles fazem de tudo aqui, desde prover a casa para as férias até comprar o apartamento para os filhos morarem. Quando não podem comprar um apartamento, aturam os marmanjos dentro de casa até bem passados os 30 anos de idade! Além disso, aqui todo o mundo tem filho contando com os cuidados da avó, porque são poucos os que pagam uma babá. Não é raro sair na rua e ver uma senhora de 60 empurrando um carrinho com uma criança de 3 anos.
Esses são apenas alguns aspectos da vida na Espanha. Há muitos outros, mais legais e mais chatos, que vou contar para vocês nos próximos posts! Espero os comentários de vocês!
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