Supermercado na Alemanha
Quem vê cara, não vê coração! Já diziam os meus avós e com muita razão!!
Não sei se porque a mídia está bem empenhada em nos fazer pensar nos preconceitos que temos enraizados há tempos, nos trazendo campanhas com meninos negros com máscaras de loirinhos pedindo esmolas, com jovens de calça caída e moletom de toca que só querem ler o jornal ou coisas desse tipo, mas me lembrei de um caso verídico (risos, pelo termo tão formal!).
E isso aconteceu comigo mesmo há mais ou menos um ano.
Estava eu num supermercado na Alemanha desses chiquezinho, onde tudo é lindo e bem arrumado e que te faz gastar muito mais do que o necessário só porque tudo é bonito e te faz querer fazer parte dessa beleza toda, fiz minhas comprinhas bem rapidinhas e fui para o caixa.
Ahh, o caixa do supermercado! Existem dois tipos na Alemanha: um normal e amável (nesse tipo chique) e os que te dão até medo (das cadeias de super bem poderosas, que vendem tudo a um preço bem bom, mas acabam com os pequenos!).
Até aí tudo bem, mas por que medo?
Porque, eles conseguem passar as tuas compras tão rápido que mesmo duas pessoas não conseguem empacotar tudo e quando terminam logo perguntam: Bar (em dinheiro) oder mit Karte (com cartão, que nunca é o de crédito mas o cartão do banco)? E se tu responderes “bar” eles já preparam o troco! Assim, tu nem podes aproveitar esse tempinho que ele teria para organizar o teu troco para guardar as tuas compras. Não, não, tem que ser tudo muito rápido.
Eu sempre prefiro pagar “mit Karte” pois daí eles não podem fazer muita coisa… Têm que esperar que tu tires o cartão da carteira, coloques na maquininha, digites o teu código e que ela confirme o pagamento.
Se quero pagar com dinheiro, já fico na filha com o dinheiro na mão.
Daí, eles num espaço de milésimos de segundo, te dão o troco e a nota.
No outro milésimo de segundo ela ou ele, já começou a passar as compras o próximo da fila e já está jogando em cima das tuas, já que não conseguiste arrumar tudo mesmo!
Com isso a pessoa que está recebendo as suas compras e com o mesmo problema que o teu, já está te olhando atravessado!
A dica é sempre pegar um carrinho e não comprar nada que quebre ou que amasse… Assim podes ir jogando tudo ali dentro sem pena e arrumar do teu gosto depois…
Bom, mas voltando ao episódio de antes…
Nesse dia eu queria fazer uma coisinha mais legal e precisa de poucas coisas e então, fui ao mais chiquezinho…
Nesse tipo de super, a fila do caixa demora, pois eles tomam tempo de nos dizer bom dia, dar um sorrisinho, e passam as nossas compras com carinho, sabe?
Sabem que um tomate não pode ser jogado de qualquer jeito, que se tu compras um pé de salada fresco é porque queres comê-lo ainda fresco e não amarrotado por ter ficado em baixo de um quilo de arroz e essas coisas.
Antes de mim, um casal de velhinhos…
E pode ter alguma coisa que inspire mais confiança do que um casal de velhinhos alemães, um supermercado legal, com uma cestinha cheia de produtos enroladinhos com papel (sim, pois nesse super, ainda se compra carne cortada na hora, verduras que tu escolhe, queijo que tu mandas cortar o pedaço que queres)… Pode?
Não, não pode!
Pois então, enquanto a moça do caixa passava as minhas compras, três ou quatro itens, a velhinha guardava as suas tranquilamente e o velhinho só do lado olhando.
Paguei e me ajeitei do lado deles para guardar as minhas.
A moca do caixa me deu o troco (aqui demora mais mesmo), e eu não achei mais o queijo que tinha comprado…
Fiquei me perguntando em voz alta, “e o meu queijo, e o meu queijo”, procurando na sacola, na esteira, no chão. Até que perguntei pra moça do caixa (que vendo a minha situação, parou tudo para me olhar como se assim ela fosse me ajudar em alguma coisa): “eu não tinha comprado um queijo?” ao que ela me responde, visivelmente não querendo se meter no assunto, mas mesmo assim simpática: “acho que sim… está no cupom?”… Quando olhei SIM! Estava!
A coitada da velhinha (que ainda estava guardando as compras, pois aqui se tem tempo!) até quis me mostrar a sacolinha dela… Ao que eu respondi não, não (tem coisa que inspire mais confiança do que um casal de velhinhos alemães num supermercado??).
Estando do lado do velhinho dei uma sobrevoada nas sacolas dele e como ele viu que eu ia achar o queijo, abriu-a, me dizendo: ohh me enganei!
Eu fiquei super espantada e até impressionada com a cara de pau dele!
Como assim, se enganou??
Ele não ajudou a própria mulher a empacotar nada e assim de engano, quando resolveu ajudar pegou logo o meu queijo?
Eu acabei deixando quieto, pois como já falei era um simples casal de velhinhos…
Quando cheguei em casa, contei o fato pro meu queridinho dizendo que o velhinho “queria” me roubar… Ao que ele me respondeu: ele não “queria” ele te roubou! E se eu estivesse lá ele iria parar na delegacia!
E assim é! A gente se protege de tantos e tanta coisa, mas nem sempre está preparado para o evidente: bom ou ruim, não é só uma questão de aparência e de empatia!
Assim como a idoneidade não está diretamente ligada aos singelos arrumadinhos, o mau-caratismo também não está ligado à expressão facial, estilo vestimentário nem a cor de pele!
Pense nisso (aqui na Alemanha também!)
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