Alemanha, a vida depois da morte.
Nos últimos meses eu estava lendo um livro sobre o pós-guerra na Alemanha. Terminei de lê-lo, e foi tão marcante para mim, especialmente os dois últimos capítulos, que cheguei a marcar umas partes para vir dividi-las com vocês. Tenho uma atração especial pela Alemanha, mas penso que mesmo quem não tenha, devia ler Alemanha, 1945 de Richard Bessel. O motivo é o fato de ser uma espécie de aprendizado moral, cultural e conhecimentos que podem acabar com preconceitos de muitas pessoas. Por exemplo, de uma pessoa muito próxima e querida cheguei a ouvir há não muito tempo, o seguinte comentário: “Não gosto dos alemães pelo que eles fizeram correlacionados ao nazismo”. Quem pensa assim mal sabe que o nazismo morreu com Hitler e com o final da sangrenta Segunda Guerra Mundial, em 1945. E durante esse artigo eu vou inserindo trechos do livro que comprovam isso – inclusive o título do artigo é o nome do último capítulo do livro.
Dias atrás estava conversando com um amigo meu da faculdade que está fazendo uma “Euro Trip”, visitando vários países e tirando fotos magníficas. Ao perguntar a ele qual o lugar que ele mais gostou, ele disse, sem cerimônias, que foi disparadamente de Berlim. Ok, cada um é de um jeito e as pessoas possuem cada uma o seu gosto, certo? Bom, poderia até ser, mas o negócio é que tenho mais depoimentos de pessoas que percorreram a Europa e se encantaram particularmente por Berlim, mais do que por outras cidades.
Como mais três exemplos disso tem meu namorado, meu professor de Planejamento, Antônio Terra, e uma amiga que fez intercâmbio pela Europa. Ao perguntar o porquê, as respostas convergiram-se para dois singulares motivos: a beleza ímpar e a capacidade que o povo alemão teve de reerguer uma cidade que foi praticamente toda destruída com a Segunda Guerra Mundial.
Como que um povo, altamente humilhado por seu líder Adolf Hitler e, posteriormente, pelos países aliados que ocuparam todo o território alemão, podem ter força e presteza para reerguer todo um império que hoje chama a atenção de todo o mundo? Mas mesmo com toda a inovação, tecnologia e monumentos restaurados, há aqueles que permanecem parcialmente destruídos, ou erguidos (como parte do muro em certos pontos da cidade), para lembrar ao povo o que esteve por trás de tudo aquilo. É realmente um museu a céu aberto, onde turistas e moradores respiram história. Dos escombros à tecnologia. Da humilhação ao positivismo. Da morte à vida. O último capítulo do livro começa exatamente dessa forma:
“Nunca na história moderna um país caíra mais fundo do que a Alemanha em 1945: sua soberania foi extinta, sua infraestrutura esmagada, sua economia paralisada, suas cidades reduzidas a entulho; além disso, a maioria da população estava faminta e desabrigada, (…) e os sobreviventes em campos de prisioneiros de guerra (…) e todo o país ocupado por exércitos estrangeiros. A Alemanha tornara-se o país da morte.”
Quando li esse parágrafo, me fiz novamente à pergunta: como que um país, com tudo ao chão, com tudo acabado, conseguiu se reerguer e se tornar uma das potências mundiais em apenas alguns anos? O que serviu de combustível para toda uma nação?
“(…) nunca um país se recuperara com tanto sucesso de uma terrível destruição política, militar, econômica, social e moral como a deixada pelo nazismo e pela guerra.”
Continuando a ler, pude perceber que a resposta poderia ser uma só: o que foi chamado de “marco zero”. Assim que acabou o dia 31 de Dezembro, e deu-se início ao ano de 1946, os alemães, após tamanho colapso, quiseram somente esquecer, deixar para trás, no “ano velho”, todo aquele racismo, imperialismo, ódio e complexo de superioridade que possuíam os governantes nazistas, características que inclusive levaram o mundo a mais sangrenta de todas as guerras, a Segunda Guerra Mundial. Para todos que nela entraram especialmente para os alemães, foi um episódio tão terrível e macabro (o livro descreve episódios sórdidos sobre os resultados da guerra) que nunca mais deveria se repetir. Seria inaceitável um país chegar ao nível que chegou a Alemanha, sem contar à vergonha que a população tinha de pronunciar o nome “nazismo” após o estrago colossal que ele provocou ao mundo. Esse pensamento, juntamente com a necessidade de sobreviver e recomeçar a vida do zero fez os alemães, na virada do ano de 1946, acreditarem no “marco zero”, onde tudo seria diferente.
“(…) com disciplina e dedicação, assim diziam, os alemães lançaram-se numa viagem virtuosa da catástrofe e do complexo de vítima para a recuperação e o sucesso.”
Penso que um povo que, ao invés do complexo após tantos traumas e do conformismo de ser um país derrotado, tenha aprendido a recomeçar e a deixar de lado conceitos pré-concebidos, colocando de pé um país que se resumiu a pó e cadáveres, merece a admiração e ser um exemplo para todos. Claro que há alemães que ainda se acham melhores que os outros e aqueles que, de alguma forma, sintam algum orgulho e admiração por Hitler e seu nazismo desumano, mas a Alemanha hoje, conforme leio e pesquiso, é um país que aceita e abre suas portas para uma diversidade muito grande de pessoas e dá a elas oportunidades, um país que teve que perder tudo na guerra para aprender que crescimento e prosperidade não têm a ver com imperialismo e violência. Pagaram caro para aprender, mas aprenderam.
“Os acontecimentos de 1945 levaram a uma profunda mudança na cultura popular e política da Alemanha. Finalmente um consenso contra a guerra passou a dominar a sociedade e a cultura alemãs. Aos olhos dos alemães, a extrema violência de 1945 fez da Segunda Guerra Mundial ‘a guerra para acabar com todas as guerras‘”.
Não vou contar todo o livro, mas fica a recomendação de leitura. E você o que pensa a respeito? Gostaria de recomendar algum livro sobre o assunto?
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