Dicas para escrever um currículo em inglês.
Quando fazia mestrado no Reino Unido, encontrei na Internet uma vaga que fez os meus olhos sorrirem. No outro dia, fui ao departamento de carreiras da universidade, com as duas páginas que sintetizavam a minha vida profissional, sentei na sala de espera e conversei em seguida com uma senhora inglesa com o sotaque mais claro que já ouvi.
Logo de início, percebi que há diversas diferenças entre os currículos escritos para o Brasil e para a Inglaterra. No Reino Unido, os CVs tendem a ser mais curtos, e o mínimo de informação pessoal é fornecida. Nada de RG, estado civil etc. Há também pouco espaço para os cursos extras, seminários e workshop que fazemos, já que o CV precisa ser direto e curto.
Por morar aqui há 6 anos, aprendi neste tempo alguns truques e queria dividi-los com vocês.
A introdução do CV é muito importante.
Normalmente, o seu nome vem numa fonte maior centralizada, e alguns dados pessoais logo abaixo, numa fonte que faz os olhos doerem tentando ler (exagerando!). Por exemplo, endereço, e-mail e telefone, apenas.
- O segundo passo é o que eles chamam de ‘profile’ (perfil) – o equivalente a objetivos no Brasil, porém com outro foco. A pergunta é: se eu lesse em duas linhas que tipo de profissional você é, o que você diria?
Um bom exemplo de profile é:
Profile
A Brand Communications Specialist who has acquired varied experiences in the advertising, marketing (client-side) and brand design industry. Also, used to supporting small teams in fast-paced and international environments.
Este profile responde às perguntas: quem, o que, por que.
Quem é o profissional, como ele se denomina (a brand communications specialist);
O que ele sabe (toda a experiência descrita, áreas já trabalhadas).
Aqui, se você trabalha, por exemplo, em TI, pode citar alguns programas, dizendo algo do tipo: proficient in Photoshop.
Por que contratá-lo? Você pode destacar o que preferir para fechar o profile.
- Depois, vem uma parte chamada ‘Core competences’, que são as suas principais habilidades.
Um bom exemplo é (vou usar o caso de um tradutor que também precisa ser criativo):
- Out-of-the-box ideas
- Excellent writing skills
- 5 years experience as English teacher
- Trados trained (software importante para tradutores)
Note que esta parte consiste de uma lista curta das suas próprias qualidades.
Aqui termina a introdução, ou seja, a parte onde o profissional da agência de recrutamento decidirá se prestará mais atenção ao seu CV (ou não!)
- A seguir, vem a Work Experience. Minhas dicas são relativas às dúvidas que tinha na época, talvez sejam as mesmas que as suas.
- Sempre use verbos no passado, a não ser que esteja falando da posição atual.
- Use os super-verbos que eles adoram. Managed (gerenciar), Improved (melhorar), Colaborated (colaborar), Delivered (Entregar, no sentido de completamente encerrar algo que lhe foi pedido). Você pode ver uma lista deles aqui.
- Organize as suas experiências por ordem temporal inversa. Da mais recente para a mais antiga.
- Se a empresa em que você trabalhou não for conhecida (principalmente se um estrangeiro for ler), escreva duas linhas sobre ela, com ramo de atuação e relevância no mercado.
- Só então, descreva a sua educação (Education). Para empresas britânicas, nunca coloque a educação antes da experiência profissional, pega super mal. Recomendo também listar estudos superiores apenas, tipo curso de graduação e mestrado. Da mesma forma, a última alcançada vem em primeiro, ou seja, mestrado (se tiver), e depois graduação.
- Liste as suas habilidades linguísticas, competências em informática e tudo mais que for importante. Você pode chamar esta sessão de Skills.
- Caso esteja mudando de área, pode criar uma adicional, chamá-la de transferable skills, e listar habilidades que podem ser úteis para a nova carreira. Por exemplo, um professor (alguém acostumado a lidar com diversas pessoas), pode dizer: excellent inter-personal skills. Eu particularmente gosto da expressão Capable of working on my own initiative as well as part of a team, pois esta diz que você é capaz de trabalhar por conta própria e em equipe.
- Por fim, só coloque referências se pedirem. Do contrário, apenas escreva um singelo ‘Upon request’.
Least but not last, o currículo deve ter duas páginas no máximo. Tudo o mais, pode ser dito na Cover letter. A Cover letter deve expressar claramente porque você se considera ideal para o cargo e de preferência não repetir as informações do CV. Você pode contar algumas conquistas profissionais ou razões pelas quais o emprego realmente te interessa. Na Inglaterra, se você não escreve uma Cover letter explicando porque se considera apto a exercer a função, eles nem lêem o seu CV, vai direto para o lixo que possui aquele símbolo de material reciclável.
Breno Pessoa trabalha no escritório de Londres de uma empresa especializada em intercâmbio. Já fez diversas entrevistas em Londres e lapidou o seu currículo com o decorrer dos anos.
15 comentários