Colômbia, a menina mal falada.
Um “Mãe, vou passar minhas férias na Colômbia” diminui a temperatura em dois graus de qualquer ambiente tanto quanto um “Pai, tô grávida”. E com razão. O país padeceu anos a fio por causa do narcotráfico. O sul é praticamente território dos caras e a fronteira com o Panamá ao norte é tão perigosa que não há como cruzar por terra.
Os narizes gringos começaram a espirrar quando Álvaro Uribe tomou posse em 2002. Tropa de Elite nem havia sido lançado e o cara já estava colocando tudo na conta do Papa. Deflagrou guerra contra o narcotráfico e não fez distinção entre guerrilheiros e paramilitares. Na via das dúvidas, foi todo mundo para o saco.
Bogotá começou a respirar aliviada. Metade da cidade já é dos civis novamente e seus três pontos mais estratégicos para o turismo: o centro histórico, o transmilênio e a zona rosa. Tudo extremamente bem vigiado. No centro, é possível encontrar até 10 policiais por esquina. E há, no mínimo, dois em cada bilheteria de transmilênio. Na zona rosa, bairro rico da cidade, é que você se sente em uma cidade comum e vê apenas duplas de policiais circulando pelas ruas do bairro. Vi até gringos andando tranquilamente com a câmera na mão. Se bem que tem cada turista desavisado que isso acaba não sendo parâmetro de nada.
O centro histórico
É formado por vários prédios governamentais, museus, lojas, praças. Os destaques são o museu do ouro, o museu Botero (mesmo sabendo que para ver Botero de verdade uma ida à Medellín é indispensável) e o cafezinho no centro cultural Gabriel García Márquez, de preferência na Juan Valdez, que é a Starbucks deles só que com café decente.
A zona rosa
É o bairro rico de Bogotá. Lá está tudo junto: boates, restaurantes, shoppings, bares. Balada comendo solta em um bairro superseguro.
O Transmilênio
Ligando a zona rosa e o centro histórico, o transmilênio, o metrô dos pobres. Pobres mas inteligentes. Os caras separaram uma faixa só para os ônibus e construíram paradas fechadas, que você precisa pagar antes de entrar. Lá dentro, as linhas são divididas por cores como no metrô e os ônibus vão e voltam por essas faixas exclusivas. É metrô, só que de ônibus.
O aeroporto é bem cuidado, seguro e dá para pegar um táxi com a certeza que o cara não vai te roubar na esquina. Os grandes hotéis ficam perto do aeroporto e do bairro empresarial, resquício do tempo em que os empresários entravam o mínimo possível na cidade e ao primeiro refém das FARC já estavam com um pé fora dela. Bogotá é isso e só isso. O resto da cidade é feia e está cheia de gangues, batedores de carteira e associados da roubalheira futebol clube. O Papa ainda vai receber muitas mortes nas costas antes da coisa melhorar.
O resto do país está todo assim, dividido. Você e o resto do mundo conhecem Medellín pelo seu cartel, mas deveriam mesmo é pelo museu do Botero. Cartagena está bem na fita, mas ainda tem gente que lembra da sua posição estratégica na rota do tráfico nos anos 80. San Andres e Taganga ainda são considerados destinos mochileiros. O que por mim não denigre em nada, mas você já fica sabendo que lá não tem Hilton com serviço tudo incluso. E assim o país vai aos trancos e barrancos. Cidades lindas com passado tenebroso.
A sensação que você tem é que a Colômbia está na quinta série e beijou dois meninos na festinha da escola. Na segunda-feira, ficou mal falada até. Só o tempo e uma boa governança vão fazer passar esse olhar infantil. Afinal, mulher que já ficou com dois também pode ser uma boa mãe de família.
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