Tegel: o aeroporto alemão que é melhor que todos os nossos juntos.
Tem tempo que os aeroportos brasileiros precisam melhorar. Tanto tempo que soa óbvio falar uma coisa dessa. O que não é óbvia é a solução que buscamos para esse problema: aeroportos maiores. A Infraero mesmo já trabalha nesse sentido reformando alguns aeroportos brasileiros. Congonhas ganhou novos fingers, o de Salvador foi totalmente reformado e o de Recife praticamente dobrou de tamanho. As novas concessionárias prometem o mesmo caminho em Brasília, Guarulhos e no Galeão. Nada de errado em melhorar aeroportos desse jeito. O problema é esse ser o único jeito.
Todo brasileiro que chega pela primeira vez a Berlim se surpreende com o Tegel. Não por lembrar nossos aeroportos nos anos 80. Ou por ser um lugar para lá de pequeno, acanhado. Mas por ser funcional.
Os voos internacionais e da Lufthansa desembarcam nos fingers. Ao final do finger, se encontram de 2 a 3 cabines de imigração. Nada de pegar esteiras rolantes, andar por corredores enormes. A imigração está ali, logo ao desembarcar. O serviço é eficiente e não deixa formar uma longa fila. Se deixasse, tornaria inviável o aeroporto. Já pensou esperar dentro do avião enquanto funcionários mal treinados atendem estrangeiros? Ao passar pela imigração, você já está na sala onde as malas do seu voo são descarregadas. A saída fica a poucos metros. Do lado de fora, é preciso andar uns 30 metros até a saída do aeroporto, onde estão os serviços de táxi e ônibus. Não há metrô. A fila dos táxis anda com velocidade impressionante e os ônibus para o centro não demoram mais do que 20 minutos. Há uma sinalização eletrônica informando em quantos minutos chega o próximo. E, sim, ela é precisa.
O desembarque de outras companhias alemãs e outras low cost europeias é feito na pista mesmo. O que não muda muito. Eles já sabem onde vão parar e já há uma escada e ônibus suficiente esperando pelos passageiros. A sala de desembarque é um pouco maior e, além das cabines de imigração, possuem impressionantes 4 esteiras para as malas.
Os balcões de embarque são tão poucos que funcionam em sistema de revezamento. A única que possui balcões fixos é a Lufthansa. O passageiro precisa procurar por todos os balcões para ver onde fazer o check-in. Em cada balcão há uma sinalização com os voos que serão atendidos nas próximas horas. Funciona assim: primeiro a AirBerlin despacha um voo para Munique, depois a Alitalia despacha um voo para Roma, em seguida a equipe da British despacha um voo para Londres. E por aí a vida segue. E haja eficiência das companhias aéreas. Não pode atrasar para não complicar o voo de outra companhia. E tudo funciona. Do lado de fora do aeroporto, há um painel eletrônico informando em qual balcão seu voo está sendo atendido. Os taxistas sempre param ali e deixam você na entrada certa. Se você chegar de ônibus, não precisa caminhar muito para descobrir seu balcão. Eles são menos que vinte.
Em Tegel não há muito espaço para firulas. Não há halls enormes, esculturas, fontes, lojas. Mas seus frequentadores não tem do que reclamar, o serviço que realmente importa é impecável.
E, ao voltar para o Brasil, fiquei horas me perguntando se precisamos mesmo de aeroportos enormes. Se a ampliação é a única saída para uma gestão mais eficiente. Berlim está construindo o seu trambolho. Para eles é o único passo a frente. E para nós? A verdade é que somos muito mal educados e não conseguimos administrar nossas próprias contas. Sem um mínimo de senso administrativo, sem ótimos exemplos de gestão pública, caímos na primeira solução que nos aparece pela frente. Talvez seja mais fácil deixar concessionárias arrancarem centenas de milhões de reais da população do que rever processos administrativos arraigados por falta de informação. Não sou contra a ampliação de aeroportos, sou apenas a favor de gestões mais eficientes. Será que antes de torrar milhões já exaurimos todas as possibilidades administrativas?
Vejam o aeroporto de Brasília. Para dar vazão a tantos passageiros, a Infraero construiu um puxadinho com mais alguns portões de embarque. Mas não compraram mais ônibus nem novas escadas. Um esforço em vão. Os passageiros tiveram que esperar do mesmo jeito já que os ônibus que os levaria para o avião estavam sendo usados em outro voo. Depois que a nova concessionária assumiu o aeroporto, a primeira coisa que fizeram foi desativar o espaço.
É incrível como no país do suingue, do balanço e do jeitinho, a única solução de problemas públicos seja a privatização. Pensando bem é natural até, já que só por não gostar de samba já sou considerado mau sujeito, ruim da cabeça e doente do pé.
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