Dicas para não ser barrado na imigração em Londres
Vai para Londres? O que você precisa saber para não ser barrado no baile
SE VOCÊ DESEMBARCAR DISTRAÍDO no aeroporto ou chegar por terra sem conhecer os requisitos dos oficiais da Imigração, estará correndo o risco de ser mandado de volta ao Brasil sem sequer chegar a ver o Big Ben. É na chegada que o visitante ou estudante é avaliado e a decisão do oficial da imigração que o entrevista no aeroporto prevalece sobre qualquer visto que você tenha obtido anteriormente. Os oficiais da imigração podem revistar malas, traduzir cartas, verificar computadores portáteis e documentos.
Chegam até a tirar raio-x do aparelho digestivo de alguns brasileiros para verificarem se há drogas no organismo. Se você pretende permanecer no Reino Unido por mais de seis meses, é necessário contatar o Consulado Britânico do Rio de Janeiro para obter o “entry clearance”, uma autorização de entrada que funciona como uma espécie de pré-visto.
Somente turistas que pretendam permanecer por seis meses ou menos podem chegar sem o entry clearance. Turistas e visitantes não têm permissão para permanecer no Reino Unido por mais de seis meses.
Mas mesmo que você queira permanecer por menos de seis meses, existe a possibilidade de ser mandado de volta ao Brasil se os oficiais de Imigração acharem que você não é um turista ou estudante legítimo. Em 2005, uma média de sete brasileiros foi rejeitada diariamente por não preencher os requisitos da Imigração. Mas o importante é estar atento e não paranoico, pois a maioria dos estudantes e turistas brasileiros que vêm ao Reino Unido ainda não encontra problemas para entrar. No entanto, os que são rejeitados perdem o dinheiro que pagaram pela passagem, que não é reembolsado, e ser barrado é uma experiência bastante traumatizante. Seguindo as recomendações abaixo você pode minimizar as chances de passar por ela:
– PASSAGEM DE VOLTA
É a prova de que você pretende retornar e você deve estar sempre pronto a apresentá-la. Observe para quando seu retorno está marcado, pois muitas vezes eles perguntam quando você pretende voltar e se a sua resposta não condiz com a data da passagem, você terá que esclarecer a divergência e dar todos os detalhes da sua trajetória. Ainda há agências no Brasil que quando vendem uma passagem com retorno aberto, marcam uma data de volta fictícia por exigência da companhia aérea.
Por distração, muitos brasileiros disseram que voltariam antes ou depois daquela data por saber que a passagem poderia ser mudada e, não conseguindo convencer as autoridades de que o retorno estava em aberto, acabaram não sendo aceitos.
– DINHEIRO
É essencial ter dinheiro suficiente para se manter durante a sua estadia sem ter que trabalhar. Nunca diga que vai ficar mais tempo do que o seu dinheiro possa cobrir, a menos que você possa provar que irá receber ordens de pagamento do Brasil. Se não tiver como provar, é bem provável que será rejeitado, já que o método deles é “if in doubt, keep them out”. Espera-se que um turista tenha US$75 para cada dia que pretenda ficar no Reino Unido. Como na maioria dos casos, o visto é concedido por seis meses, mesmo que o turista diga que pretende ficar por menos tempo, é melhor dizer que pretende permanecer apenas pelo período que você pode comprovar que tem como se manter.
– BAGAGEM
Nunca traga nada de terceiros sem saber o que é, incluindo bilhetes e cartas. Quando decidem checar a sua bagagem, eles investigam tudo e às vezes até traduzem cartas pessoais. Qualquer menção a trabalho ou cursos (se você não disse que pretendia estudar) levantará suspeitas. No caso de drogas, a situação é mais grave. Caso encontrem drogas na sua bagagem, você vai tomar chá de canequinha por um bom tempo. Mesmo que seu vôo esteja apenas fazendo escala em Londres, o julgamento é na Inglaterra e se for condenado, a pena (de 6 a 12 anos) é cumprida em penitenciária britânica.
– ENTREVISTA
O fato de ter preenchido as condições acima ainda não garante a sua admissão. O oficial de imigração pode querer saber os motivos de sua viagem e ainda existe a possibilidade de rejeitá-lo apenas por achar que o seu comportamento não é conveniente para o país. Não existe um padrão para essa avaliação. Se o oficial suspeitar, mesmo não tendo provas, ele tem autonomia para barrá-lo. Em 2004, por exemplo, um grupo de 72 brasileiros veio à Inglaterra para um festival em homenagem aos Beatles. Os oficiais decidiram entrevistá-los sobre os Beatles e seis brasileiros foram repatriados porque não souberam responder algumas perguntas. Um deles não soube dizer o nome da viúva de John Lennon e o oficial da Imigração não acreditou na possibilidade de alguém viajar para um festival sobre os Beatles e não saber quem é Yoko Ono. Os outros cinco voltaram para o Brasil por não saberem dizer quais integrantes do Beatles ainda estavam vivos ou por não terem sido capazes de citar as músicas da banda que eles conheciam. O episódio deixa claro que contradições e indecisões sempre levantam suspeitas.
Outra pergunta comum é sobre as suas atividades no Brasil e eles esperam que elas sejam relacionadas à sua viagem. Se, por exemplo, você é estudante no Brasil e está viajando fora do período de férias escolares, eles vão querer saber por que. Antes de dizer que tem conhecidos na Inglaterra, esteja certo de que eles saibam da sua vinda, pois eles podem ser contatados para confirmar suas intenções. Ter amigos ou parentes no Reino Unido nem sempre ajuda. Muitos oficiais suspeitam de que se você tem contatos com residentes aqui, você veio para ficar e vão fazer várias perguntas sobre essa pessoa. Caso alguém vá esperá-lo no aeroporto, eles podem chamar essa pessoa para confirmar o que você disse antes de carimbarem o visto no seu passaporte. Se você disser que não conhece ninguém e tiver alguém à sua espera é bem provável que eles não o deixem entrar. Já aconteceu de um oficial da imigração chamar o nome de um recém-chegado pelos falantes do aeroporto para ver se havia alguém esperando. A pessoa foi ao guichê da imigração, o turista tinha dito que não conhecia ninguém e foi mandado de volta.
– ESCOLA:
Quem pretende fazer um curso de curta duração, ou seja, inferior a seis meses, não precisa autorização de entrada, pode obter o visto na chegada. Se você pretende estudar, é necessário comprovar que além de ter pago pelo curso, você tem como se manter durante a sua estadia. Embora os estudantes possam trabalhar até 20 horas por semana, os oficiais da Imigração esperam que você não conte com um emprego de meio período para se manter. Na prática, esse emprego seria um extra e não uma fonte de renda para pagar por transporte, acomodação e outras necessidades básicas. Se você não tem muito dinheiro mas seus pais o ajudarão no decorrer do curso, esteja preparado para esclarecer como o dinheiro será enviado. Um outro problema que alguns brasileiros tiveram no ano passado foi com matrículas em escolas muito baratas, não reconhecidas pelo British Council ou organizações do gênero. Veja bem, não há nenhuma recomendação oficial para que o estudante se matricule numa escola reconhecida, mas você tem que estudar 15 horas por semana, em horário diurno, numa escola legítima, ou seja, que ofereça cursos de qualidade e controle a freqüência dos alunos. As escolas reconhecidas pelo British Council, BAC, ABLS (the Assocation of British Language Schools), ARELS (Association of Recognised English Language Services) ou BASELT (the British Associaton of State English Language Teaching), são vistas com bons olhos.
– ENTRY CLEARANCE / Autorização de entrada: Os brasileiros recebem o visto ao chegar no Reino Unido mas para quem pretende permanecer por mais de seis meses é necessário obter uma “entry clearance” (autorização de entrada) no Consulado Britânico (www.britishembassy.gov.uk) antes de sair do Brasil, preenchendo o formulário VAF1. Trata-se de um adesivo que é colado no passaporte do viajante.
A taxa para requerer a autorização de entrada é de £85 e a solicitação deve ser feita com uma certa antecedência. Verifique as datas na etiqueta colada no seu passaporte e observe também que você não pode viajar antes da data que consta na etiqueta. Certifique-se de que ela cobre o período necessário, verificando se a “expire date” coincide com o término do seu curso. Se houver qualquer erro você pode pedir ao Entry Clearance Officer que faça as devidas correções.
– APARÊNCIA:
Na teoria, a aparência não deveria ser um quesito para a sua admissão no país. Na prática, ela conta tanto que um ex-oficial da imigração britânica até escreveu um livro sobre o assunto. O inglês Tony Saint escreveu um “romance” chamado Refusal Shoes, que tem como protagonista um funcionário da imigração que não gosta da função que exerce no aeroporto. Depois de passar três anos controlando a entrada de estrangeiros no terminal três do Aeroporto de Heathrow e sete anos no terminal ferroviário do Eurotunnel em Waterloo, Saint garante que seu livro é pura ficção, mas numa entrevista concedida à revista Trip, ele admitiu que algumas histórias relatadas no livro realmente aconteceram com ele, ou ele viu acontecer. E confirma o que muitos estrangeiros descobriram arduamente: você pode ter sua entrada negada no país se estiver usando algo nos pés que não seja considerado de bom gosto, como mocassins envernizados, ou vestindo uma roupa que não combine com o que está dizendo sobre a sua vida ou o motivo da sua viagem.
Como Henry, o personagem principal e narrador da história, Saint disse ao repórter da Trip que em certas circunstâncias se sentia muito mal em relação ao que estava fazendo: “Nunca foi o tipo de trabalho que eu gostei de fazer, mas conheci, sim, certas pessoas que sentiam verdadeiro prazer no que estavam fazendo”. Perguntado quantas entradas recusou em 10 anos de trabalho, ele diz que recusava entre 20 e 25 por ano, mas que alguns colegas de trabalho recusavam essa média de pessoas por semana e chegavam a competir para ver quem mandava mais estrangeiros de volta ao país de origem.
Um outro ex-oficial da Imigração, Mark Watson, disse numa entrevista à revista Leros que se sentia aliviado por ter mudado de profissão: “Se existe uma coisa de que eu me arrependo é de um dia ter sido oficial de Imigração, um emprego onde você tem que ser racista, machista e homofóbico”.
Não existe regra para ser aceito no Reino Unido, tudo depende do julgamento pessoal de cada agente e ele tem que acreditar se é verdade ou não a história que a pessoa está contando, como Tony Saint deixou claro na entrevista à revista Trip: “Por exemplo, você, sendo do Brasil, não precisa de visto para entrar aqui, mas tem de satisfazer o agente da imigração quando chega. O caso é que tem muito brasileiro que vem para cá sem nunca ter viajado para o exterior, chega sem falar uma palavra de inglês e diz que está vindo para passar três dias em Londres! Claro que esse vai ficar um tempão na imigração e dificilmente vai conseguir dar uma boa razão para estar vindo para Londres”.
Saint diz que ao usar um par de calçados como os que aparecem na capa do seu livro você estará “procurando problemas” (daí o título Refusal Shoes). O que conta é a primeira impressão e não é só a roupa que você está usando que é analisada. De acordo com Saint, eles observam também o modo como você anda e se está nervoso: “Dá para olhar para um cara de terno e dizer que ele, naturalmente, não usaria aquilo, que é só uma roupa para impressionar. Se um homem diz que está vindo passar férias e está de terno, vai ter problemas… Ora, se está de férias, por que o terno?”.
RESUMINDO: Embora 90% dos brasileiros obtenha o visto de seis meses sem problemas, a decisão final é sempre do funcionário da Imigração, que pode simplesmente se basear nos termos do Acordo sobre Isenção de Vistos que o Brasil e o Reino Unido firmaram em 2 de julho de 1998, por meio de troca de notas:
“As autoridades competentes da República Federativa do Brasil e do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte reservam-se o direito de negar entrada ou permanência em seus territórios nos casos em que o requerente for considerado indesejável ou inaceitável, no que diz respeito à política adotada pelos respectivos Governos quanto aos procedimentos de entrada ou permanência de estrangeiros.
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