Geoturismo: A ascensão de um novo turismo de nicho
No geopatrimônio de uma área, na forma de afloramentos rochosos, com seus minerais, fósseis, estruturas e texturas, nos solos, nos corpos d’água, assim como nas grandes geoformas ou no patrimônio cultural de um determinado Centro Histórico, estão inseridas informações que ajudam a contar a história deste local, de sua geodiversidade e de como estes georecursos foram utilizados, em determinado tempo histórico, do ponto de vista cultural.
Ao se inserir elementos da paisagem natural, em especial o patrimônio abiótico, assim como o patrimônio cultural à atividade turística, como resultado de um mercado mais exigente, acaba por proporcionar a ascensão de turismos de nicho, e o geoturismo se encaixa neste contexto, como uma atividade integrada entre as Geociências, a cultura e a história do local em que estão inseridas.
A depredação da natureza, devido ao aumento do consumo e de práticas sociais inadequadas, obriga alguns setores da economia a se adaptarem a atividades conservacionistas, tanto voltados para o meio biótico quanto abiótico. O geoturismo também se encaixa neste contexto.
Muitas vezes, o geoturismo tem sido enquadrado no ecoturismo, devido ao seu viés natural e seu caráter conservacionista. Ao longo da história, várias definições foram propostas sobre o ecoturismo, que apesar das diferenciações, são unânimes em caracterizá-lo como um segmento do turismo de natureza, sendo uma atividade executada em áreas naturais, com o objetivo de admirar e desfrutar da paisagem, de maneira sustentável, por vezes incluindo o estudo dos elementos da fauna e flora. A participação da comunidade local neste processo é fundamental.
O Ministério do Turismo, no Brasil, inclusive, considera algumas opções de atividades turísticas no país, a exemplo do turismo cultural, turismo de estudos e intercâmbio, turismo de esportes, turismo de pesca, turismo náutico, turismo de aventura, turismo de sol e praia, turismo de negócios e eventos, turismo rural, turismo de saúde e o ecoturismo, sem fazer referência ao geoturismo, ao ser inserido no ecoturismo.
Entretanto, o geoturismo é considerado um turismo de interface entre o turismo de natureza, no caso do ecoturismo, e o turismo cultural, pois o conhecimento é a busca principal na atividade geoturística, geralmente desenvolvida não apenas em ambientes naturais ou rurais, mas também em zonas urbanas, onde o usufruto da biodiversidade não é sua principal motivação, como é o caso do ecoturismo. Normalmente, parte do perfil do geoturista se assemelha ao ecoturista, ou seja, um admirador da natureza, acrescentando os amantes das artes e das ciências, que possuem interesse em conhecer mais da paisagem que estão admirando, assim como usufrui-lo de maneira sustentável. Mas as semelhanças terminam por aí. O potencial do ambiente urbano para a prática do geoturismo acaba por distanciá-lo do ecoturismo, assim como o valor dado ao meio abiótico nesta apreciação.
O geoturismo, por outro lado, possui algumas vantagens ao ecoturismo, como não estar restrito à sazonalidade, podendo se desenvolver durante todo o ano; não estar dependente dos hábitos da fauna; por ser um turismo de nicho, não ocorre sobrelotação; serve como complemento para áreas tradicionalmente turísticas e; promove o artesanato ligado aos elementos da geodiversidade. Acrescenta-se que, em ambiente urbano, o geoturismo acaba por entrelaçar o patrimônio cultural aos elementos da geodiversidade, como as rochas, ou até mesmo ao geopatrimônio, na forma do relevo, os recursos hídricos e do solo, o que enriquece a experiência turística.
Na Europa, berço da definição e prática desta atividade, o geoturismo é principalmente executados em geoparques, onde o patrimônio abiótico é realçado. No continente, existe 69 geoparques, distribuídos em 23 países. No Brasil, para se ter uma ideia, apenas o Geoparque Araripe foi oficializado, existindo propostas para a criação de mais de 30 geoparques. Os geoparques possuem infraestrutura propícia para receber os turistas, de maneira que uma mídia interpretativa, na forma de painéis, folders, cartazes, entre outros, apresente a geodiversidade presente aos turistas. Abaixo, algumas fotos do Geoparque Araripe, no Ceará, e do Geoparque Cliffs of Moher- Burren, na Irlanda e o Geoparque Terra dos Cavaleiros, em Portugal.
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