O perigo do imediatismo

O perigo do imediatismo

Um carro, apartamento próprio (ou até mesmo alugado), um emprego estável, a liberdade de poder viajar em um feriado para uma cidade vizinha, uma praia ou qualquer outro evento. A liberdade de chegar em um supermercado e poder escolher sua marca preferida sem se importar muito com o dinheiro que vai gastar, etc. Tudo isso, e as vezes até mais, estão em jogo quando o assunto do momento torna-se imigração. Nenhuma mudança em sua vida sócio econômica pode ser tão drástica quando o fato da mudança de país para um recomeço geral das suas atividades profissionais e cotidianas. Portanto ao chegar nesse ponto a pessoa precisa pensar muito e pesar tudo na balança antes de tomar a decisão de partir para outro continente que seja, neste caso, o país Canadá.

O Brasil é, certamente, um dos principais países a enviar imigrantes qualificados para o Canadá, porém aqueles que desejam imigrar precisam se dar conta de que nada será tão fácil e imediato quanto parece. Apesar da carência em várias áreas do mercado profissional canadense, não basta somente ser diplomado e trazer dinheiro para conseguir com que sua vida continue igual ou até mesmo melhor que no Brasil. É preciso, em primeiro lugar, muita paciência. Pois nascer novamente não será fácil. Este nascer novamente inclui desde o aprendizado do idioma local à retomada da vida profissional com o emprego desejado e sua vida estabilizada novamente. O que acontece muitas vezes é um exagero ao se divulgar nos jornais brasileiros as oportunidades de emprego existentes no Canadá. Aí você pode estar se perguntando “Então é mentira?” digo-lhe que não.

O que acontece no Canadá é que apesar da carência em várias áreas profissionais eles não abrem as portas das suas empresas e/ou hospitais com a mesma facilidade que abrem as portas do país para lhe aceitar. Um bom exemplo é a carência na área de saúde. Apesar de incontáveis ofertas de emprego nessa área, o imigrante não é aceito para trabalhar enquanto não concluir sua equivalência de diplomas. Um processo demorado e bastante caro. Em determinados casos o tempo de espera pode chegar a 3 anos, praticamente uma nova faculdade. Os documentos serão traduzidos, enviados às determinadas ordens, analisados e dependendo da decisão tomada por eles o imigrante precisará voltar aos estudos durante algum tempo para equiparar o seu diploma ao diploma canadense. Nem todo mundo tem a paciência, a vontade ou até mesmo o tempo de parar o que está fazendo para voltar a estudar.

Esse é um dos principais fatores que fazem com que alguns brasileiros (digo brasileiros pois estamos aqui falando para este público, claro que existem outras nacionalidades que passam pela mesma situação) desistam da ideia de imigrar e voltem ao Brasil. Vamos por como exemplo um médico brasileiro com anos de formação. Digamos que ele possua 10 anos de experiência na área e que seu diploma não necessite de uma volta às aulas. Mesmo assim ele ainda precisará ser analisado, certo? Vamos ainda dizer que este médico imigre para o Canadá com sua mulher e filhos. Como sustentar uma família sem emprego e ainda tendo que pagar e esperar traduções, análises e respostas dos documentos? Precisa-se então arrumar um emprego qualquer para que este injete uma quantia de dinheiro dentro de casa e assim conseguir esperar por todo o processo de análise. Mas este emprego qualquer, é fácil de se arrumar?

Para arrumar um emprego você precisa obter uma situação chamada de “experiência canadense” de trabalho. Essa experiência trata-se de qualquer serviço feito no país que lhe permita obter uma referência para seu futuro empregador. Uma boa alternativa é tentar trabalhos voluntários. Estes não são remunerados, são temporários, porém lhe dão a oportunidade de colocar em seu currículo uma referência canadense para que o futuro empregador possa saber por intermédio de outra pessoa se você é uma pessoa dedicada, pontual, se consegue trabalhar em equipe, etc. Outra opção é distribuir vários currículos e esperar as convocações para entrevista. Algumas vezes você será descartado por falta daquela experiência canadense, outras vezes será por conta do idioma e claro que algumas irão lhe contratar e lhe darão a chance. Tudo vai depender da sua entrevista.

Obviamente que isto não consiste uma regra, existem alguns casos de pessoas que chegam no país e se dão super bem logo nos dois primeiros meses, mas contabilizando a quantidade de pessoas que imigram para o Canadá vindas somente do Brasil, precisamos concordar que eles fazem parte de uma certa, exceção. Não deve-se ser levado como verdade, mas precisam ser postos como referência de onde podemos chegar e de onde queremos passar. Uma das principais questões que a pessoa precisa fazer antes de decidir sair do seu país é: “Estou pronto?”

Nada de imediatismos, nada de correria em busca do pote de ouro, dê tempo ao tempo e tenha em mente de que este é um projeto para ser levado de médio a longo prazo. Lembre-se que é natural ao imigrante construir seu castelinho tijolo por tijolo e isso não é um objetivo breve. Não se apegue à vida dos outros. Se alguém conseguiu um emprego ou se alguém está a 3 meses procurando e só encontra as portas fechadas. Cada caso aqui é realmente um caso diferente. Desde a formatação do seu currículo (que pode abrir ou fechar portas) até o caso daqueles que procuram empregos em áreas que não dominam mas que acham que podem conseguir pois seu currículo é universitário. Paciência e perseverança são essenciais.

12 comentários

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Francisco Braz Neto

Belo artigo! Parabéns Camilo. Assino embaixo.

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    Camillo

    Valeu irmão.

    Boa Sorte na sua volta ao BR. E qualquer coisa estamos por aqui, na terra do gelo.

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Rodrigo Arturo Black

Estava com dúvidas se imigraria para o Canadá este ano, mas depois desse artigo acho que não há problema em esperar mais um ou dois anos (ou mais)… fazer alguns cursos… melhorar meu currículo…

Obrigado.

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Alice Souza

Achei bem ponderado o seu post. Penso ser importante que os futuros imigrantes tenham o màximo de informação sobre a realidade no Canadá, que muitas vezes é retratado como verdadeira canaã para imigrantes qualificados de outros países. A vida de um imigrante qualificado aqui é tão dificultosa quanto a de um imigrante qualificado nos EUA, Inglaterra, Alemanha, Itália, Austrália, etc. A condição de estrangeiro, por razões óbvias, é sempre difícil. Sou estudante de mestrado na McGill há 1 ano e 6 meses, período no qual conheci muitos brasileiros altamente qualificados que vieram para cá para serem residentes permanentes. Pessoas com mestrado/doutorado, fluentes no francês e no inglês que somente depois de trabalhar 5-8 anos em subempregos (i.e. garçom de restaurante português, entregador de jornal no metrô às 5 da manhã, sopradora de balão [!]) conseguiram algo em suas próprias áreas (advocacia, fisioterapia e ensino de física). Outros, nem essa sorte tiveram. Assim, a pergunta que cada candidato a imigrante deve se fazer é: quão ruim é a sua vida no Brasil? É uma vida tão tão tão ruim que valha a pena passar anos trabalhando em empregos cucarachas no Canadá, sofrendo preconceito velado? Percebo que algumas pessoas possuem uma fantasia e um deslumbre sobre o que seja a vida no exterior. Alguns, por exemplo, fizeram um curso de línguas, visitaram o Canadá, acharam o máximo e pensam que terão a mesma situação enquanto residentes permanentes. Esquecem-se do ditado: farinha pouca, meu pirão primeiro. Ou seja, quando se coloca dinheiro no meio, competição por emprego com canadenses, o buraco passa a ser mais embaixo. Você não é mais visto como aquele estudante chicano que passará uns meses e voltará para o seu país, mas sim um concorrente, alguém que veio para ficar e que concorre com os cidadãos canadenses por emprego, dinheiro, benefícios. E quando se deixa a condição de “café com leite” para ocupar a posição de concorrente, é óbvio que a coisa muda de figura em qualquer lugar do mundo. Por isso, é muito importante se munir com o máximo de informações e refletir bastante antes de tomar uma decisão tão radical. A propósito do tema, vejam esta reportagem produzida pela emissora canadense CTV: https://www.youtube.com/watch?v=zLEwNZ6qkms&feature=player_embedded. Enfim, se vc. quiser pagar para ver, coloque as ilusões de lado e faça consciente das dificuldades e da realidade, muitas vezes brutal, no Canadá.

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J. Pereira

O Canadá é uma ilusão que destruiu e continua destruindo os sonhos e as carreiras de incontáveis imigrantes! Como muitas vezes tendemos a nos enganar, fixamo-nos nos casos de sucesso. Estes casos existem, mas são a exceção e não a regra!

O objetivo do programa de imigração canadense, carinhosamente chamado por aqueles que já entenderam a verdade de “Indústria da Imigração” ou “Máquina de Imigração”, é saturar o mercado canadense de mão-de-obra qualificada e extremamente barata, de forma que a maioria destes profissionais, movida pelo desespero, acabe trabalhando em empregos de baixíssima qualificação a troco de um salário mínimo. O sonho da imigração é na verdade o sonho das corporações e business! Mão de obra instruída e extremamente barata!

Muitos não aguentam e vão embora (mais de 40% em um período de até 10 anos após a chegada), mas o sistema já contabiliza esse êxodo e trabalha sempre no lucro. Os desesperados que ficam porque a opção no país de origem é pior – Congo, Bangladesh, totalitarismo chinês, etc… – são mais do que suficientes para darem conta da sede de lucros das corporações, empresas donas de inúmeros prédios-cortiços especializadas em aluguéis baratos para imigrantes, organizações de “auxílio ao recém-chegado”, escolas de línguas, etc…

Trata-se de uma indústria mesmo na qual nós, imigrantes, somos a carne a ser moída. O dono do blog, na minha opinião, acerta em uns pontos mas erra em outros. Por exemplo, ao falar de “paciência” e de “dar tempo ao tempo”… Cuidado! O tempo é impiedoso e após trabalhar como voluntário (neo-escravagismo?) você poderá perceber que a tal “experiência canadense” adquirida não se aplica ao emprego na sua área, que é o seu objetivo. Tempo perdido… E será que um médico que passou cinco anos dirigindo táxis ainda será um médico ao fim deste período. Talvez… mas totalmente desatualizado, o que será mais um motivo para os canadenses o rejeitarem no mercado de trabalho.

Os canadenses reservam diabolicamente os melhores empregos para si próprios, através do sistema genericamente conhecido aqui como “networking”, que na América Latina é geralmente conhecido como “amiguismo”.

Outra coisa, essa história de “mandar currículos” e “esperar a entrevista”. Existe uma grande probabilidade de que tal entrevista não chegue nunca, já que eles identificam o seu nome, etnia e instituição de ensino no currículo e mandam a sua papelada para o lixo. E quando a entrevista porventura chega, pode ser que o objetivo seja apenas torrar o seu tempo, porque alguém do departamento de pessoal tem a obrigação de “fazer entrevistas” apesar de as cartas já estarem marcadas.

Tudo isso é muito triste, mas é a verdade. Cheguei ao Canadá com um sonho e hoje, após ver tantas vidas destruídas, conto nos dedos o período que falta para ir embora desta FRIA!!!

Se você é rico, tem dinheiro à vontade, fonte de renda no Brasil para se sustentar aqui, tudo mudo de figura. Venha, passeie, pesque, esquie… Mas se a ideia é começar uma nova vida aqui trabalhando na sua área, pense bem amigo, pois você poderá estar cometendo o maior erro da sua vida!!!

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    Anonimo

    Não concordo com a sua opinião que creio ser tendenciosa e polarizada. É no fundo uma política governamental e os termos e condições são bem claros. É muito fácil colocar a culpa no governo canadense sem antes ler e principalmente, entender, quais são as condições contratuais dessa política.
    Só vai quem quer e se aplica ao processo por decisão própria. Ninguém força pessoas a fazê-lo.
    Antes de dizer que a política é injusta, deve-se analisar se os imigrantes estão tentando fugir de um problema sem analisar profundamente as conseqüencias da decisão ou se realmente estão preparados para uma mudança radical como mudar de país.
    Sinto se esse foi o seu caso em particular. Mas da mesma maneira que voce expressa de maneira radical a sua opinião, as outras pessoas também tem que entender todos os lados da questão para ter uma posição própria.

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      Paulo Meier

      Anônimo. O J.Pereira diz a verdade sobre a realidade do sistema de imigração canadense: para a maioria sub-emprego e desemprego . A sua msg, pelo contrário não diz nada. É papo pseudo-filosófico sem fatos concretos: “Tem que analisar se os migrantes tentam fugir sem analisar”. What?!?!. Sugiro que você faça uma autoanálise antes de escrever besteiras.

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      J. Pereira

      Anônimo. As estatística são claras. Elas evidenciam o resultado da Indústria de Imigração canadense. Já a sua argumentação é inteiramente subjetiva, beirando o relativismo new-age. Um pitaco tão superficial que não mereceria nem comentário, a não ser pelo fato de que mais gente pode ser induzida a entrar nesta fria chamada Emigração para o Canadá. Por falar nisso, aposto que você é membro da “Indústria”. Advogado ou “Consultor”?

      Brasileiros! Cuidado com a imigração para o Canadá! Isso é um buraco negro que poderá engoli-los inteiros!

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Fernando Souza

Pessoal, entendam! Não há empregos decentes no Canadá. O governo adotou uma política de imigração em massa, criando assim uma “Indústria da Imigração”, com o objetivo precípuo de beneficiar as grandes corporações, já que com esse esquema existe mão de obra farta, educada, baratíssima e desesperada.

Beneficiam-se também desta política advogados e consultores de imigração picaretas, centros de “ajuda ao imigrante”, políticos, vendedores de carros caindo aos pedaços, companhias donas de cortiços que alugam “apertamentos” tipo “pombais” para imigrantes, e por aí a fora. Para um ou outro imigrante que conseguirá emprego, haverá sempre centenas que ficarão trabalhando nos chamados “dead-end jobs”, entregando pizzas, fazendo faxina, vendendo produtos em balcões de lojas, em regime “part-time”, o que não lhes dá direito a benefício nenhum, nem mesmo a férias! É isso mesmo, SEM FÉRIAS!!!

Acordem! Esta é uma questão de aritmética básica, baseada na lei da Oferta e da Procura: o Canadá está trazendo quase 300,000 imigrantes por ano para o Canadá. Só que não há empregos nem para um sexto desse número! O desemprego e o subemprego, principalmente, são generalizados. Segundo dados do último censo, de 2001, em um período de 10 anos cerca de 40% a 50% dos imigrantes retornavam para os seus países de origem, após perderem tempo, dinheiro, carreira… O Canadá arruina milhões de imigrantes. Os novos números, após o censo que será feito este ano, deverão ser ainda piores, e até por isso o governo “deu um ninja” e extinguiu o censo completo, o chamado “long form census”, certamente com o intuito de esconder as más notícias.

Alguém aí se lembra da famosa imigração ilegal para os Estados Unidos na década de oitenta e noventa? Pois então, eu lhes digo: aqueles imigrantes ilegais, a despeito de todos os problemas advindos da ilegalidade, viam-se em uma situação financeira melhor do que o imigrante LEGAL no Canadá. Para aqueles ilegais de Governador Valadares e outros lugares, havia ao menos a esperança de após muito ralar conseguir fazer um pé de meia e retornar em situação melhor para o Brasil. Já no Canadá não há nada disso. É trocar o seis pelo meia-dúzia, o almoço pela janta, ver o tempo passar em meio ao frio e à desilusão…

Acordem! O país é até bonitinho, apesar de cada vez mais sucateado, mas no que se refere a profissão e emprego, o Canadá não tem praticamente nada a oferecer. E viver na pobreza ou na miséria no Primeiro Mundo não é nada divertido. Cuidado, pessoal!

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    Gustavo

    Concordo integralmente com você Fernando Souza, estávamos pensando em entrar nesta fria: começamos um curso de francês porcausa destes famosos “consultores de araque” e pesquizamos muito na internet e com pessoas que moram no Canadá e realmente é isto: viver com qualidade de vida num país que vai fechar as portas para os imigrantes!
    Que as pessoas te escutem e fiquem no Brasil, pois para estas pessoas, aceitem que nasceram Brasileiros e não podem mudar a realidade!

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    Alberto

    Muito interessante as respostas sobre a ilusao canadense..nao sei se tenho muita sorte ou algo assim, mas no meu caso, vim fazer doutorado sempre fiz voluntario na minha area, fui reconhecido como nunca nem sonhei no Brasil e tenho uma oferta de emprego com um bom salario, tambem na minaha area…ou Deus gosta mt de mim, ou tenho mt sorte..

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Alberto

Muito interessante as respostas sobre a ilusao canadense..nao sei se tenho muita sorte ou algo assim, mas no meu caso, vim fazer doutorado sempre fiz voluntario na minha area, fui reconhecido como nunca nem sonhei no Brasil e tenho uma oferta de emprego com um bom salario, tambem na minaha area…ou Deus gosta mt de mim, ou tenho mt sorte..

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